domingo, 23 de novembro de 2025

Quando eu terminar, eu descanso.



Nas últimas semanas, minha vida foi um caos: minha mãe passou por uma cirurgia delicada, a escola entrou naquele período “gentil” de provas, com o conselho se aproximando, a faxineira faltou e eu passei os dias inteiros operando no modo sobrevivência automática, aquela versão de mim que acorda, trabalha, organiza, socorre, resolve e não descansa. Eu sobrevivi me prometendo: “No feriado, eu descanso. Quando tudo terminar, eu descanso.”

O feriado chegou e, veja só, eu sobrevivi. Acordei decidida: hoje eu vou levantar, beber um copo de água, pegar um livro e deitar na rede ao sol. Simples, humano e possível. Saí da cama com a convicção de um descanso merecido.

Mas, no caminho do banheiro, olhando a roupa suja suspirando no cesto, pensei: “Vou só colocar na máquina rapidinho. Enquanto lava, eu leio na rede.” Coloquei a roupa na máquina e, já que estava ali, aproveitei para recolher e dobrar a roupa que estava no varal. Voltei para a sala e percebi que a deixamos bagunçada na noite anterior, então arrumei. Passei pela cozinha, lavei a louça da pia e também passei pano no chão.

A máquina apitou e eu estendi a roupa. Olhei o relógio: já era quase hora do almoço. Fui fazer o almoço. Enquanto o fogão fazia o seu trabalho, fiz uma comprinha no mercado online porque percebi que estávamos sem coisas básicas em casa. Ainda precisava imprimir as fichas do conselho, então almocei imprimindo. Multitarefa? Não. Multi-desespero.

Depois do almoço, lavei a louça, terminei a documentação, aproveitei que estava no computador e limpei a caixa de e-mail, respondi mensagens, resolvi pendências, bati carimbo em tudo o que dava para bater carimbo. Então voltei para a cozinha e senti uma fisgada nas costas: o corpo dando aquele tapa pedagógico. Encostei no balcão, mãos apoiadas, cabeça baixa, tentando lembrar o que eu tinha ido fazer ali.

Demorei alguns segundos até a memória vir como uma piada cruel: o copo de água e o livro para ler na rede ao sol.

Bebi a água, peguei o livro e fui para a rede. O sol? Já tinha ido embora. O dia inteiro tinha ido embora. E eu, mais uma vez, tinha sido devorada por uma criatura mitológica chamada Tarefa, esse bicho traiçoeiro que se multiplica toda vez que escuta a palavra “concluída”.

No fim das contas, percebi a obviedade de que eu finjo não ver: enquanto eu insistir em descansar só depois de terminar tudo, eu nunca vou descansar. Porque “tudo” é um poço sem fundo, e eu continuo descendo como quem acredita que, lá embaixo, vai encontrar paz.

Mas paz não mora no fim da lista. Mora no meio dela. E eu preciso aprender a parar antes que o corpo pare por mim.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

O milagre da vida

 No dia 11/11, às 5h da manhã, seguimos para o hospital. A cirurgia da minha mãe começou às 11h: foram três horas preparando um novo ritmo de vida, um implante da válvula aórtica para corrigir o coração que falhava e trazia mal-estar.

Fui acompanhada de minha irmã mais velha, e minha irmã mais nova ficou com nosso pai em casa. Enquanto o relógio corria, senti uma paz inesperada e profunda, mesmo sabendo do risco. Era como se cada respiração dissesse: “Aguente firme, você não está sozinha.”

A cirurgia foi tranquila. A recuperação, serena. No dia 11, ela permaneceu na UTI; no dia 12, no final da tarde, passou para o quarto; e no dia 14, voltou para casa.

Durante todo esse tempo, a tranquilidade me acompanhou. Cada batida do coração dela, cada pequeno sinal de vida, parecia um milagre acontecendo diante de nós. Um lembrete de que a vida é frágil, preciosa, e que mesmo em silêncio, um milagre acontece a cada instante.

Hoje, olhando para ela em casa, sinto gratidão por ela estar aqui, por respirar, por testemunhar o milagre da vida.


Lágrimas regando milagres.
Fer

#millagrimasmilagres #omilagredavida #gratidaopelavida

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Respirar: um pequeno milagre diário

 

Desafio da semana:  Respiração

"Às vezes, tudo que a gente precisa é apenas respirar."

        Durante esta semana, reserve um momento para fazer este exercício simples:

  1. Inspire profundamente pelo nariz, pensando na frase: Tudo o que preciso.

  2. Segure por um instante, permitindo que o ar preencha o peito.

  3. Expire lentamente pela boca, dizendo mentalmente: É parar e respirar.

  4. Repita 3 vezes.

  • Faça onde estiver: na mesa, no sofá, na cama, no banheiro. O importante é respirar consciente e plenamente, mesmo que seja por apenas um instante.

  • Faça esse desafio todos os dias dessa semana. Me conte como foi a experiência.


Lágrimas regando milagres.

Fer


#millagrimasmilagres #desafiodasemana #respiraçãoconsciente #pausapararespirar

domingo, 16 de novembro de 2025

Voltar para respirar

    

    Durante nove anos, este blog ficou parado. Não foi por falta de assunto, inspiração ou vontade. Foi porque, simplesmente, a vida me engoliu. E quando a vida faz isso, a gente não escreve, a gente se agarra ao que dá e torce para não virar espuma na próxima onda.

     Eu não parei porque não tinha nada a dizer. Parei porque tinha coisas demais acontecendo ao mesmo tempo. Tanta coisa atravessando o peito que eu já não sabia nem por onde respirar. 

    E então passaram dias, meses, anos. Fui vivendo como quem nada longe da margem: você não afunda de vez, mas também não chega a lugar nenhum. Só mantém o corpo boiando, tentando economizar fôlego.

    Até que, em algum momento recente, o corpo avisou que precisava voltar à superfície. Não por coragem, mas porque respirar virou urgente.

    E é por isso que estou aqui de novo: escrevendo, respirando por escrito. Porque às vezes a única maneira de continuar é transformar em palavras aquilo que quase nos sufoca. Porque escrever é, no fundo, o meu jeito mais honesto de voltar para mim mesma. Porque existe um tipo de cansaço que ninguém vê, aquele que corrói por dentro enquanto a gente faz tudo “direitinho” por fora. E porque, quando esse cansaço aperta, eu preciso desse espaço como quem precisa de ar. 

    Então este blog volta agora como deveria ter sido desde o início: um lugar para pousar as dores silenciosas, as lágrimas clandestinas, remendos feitos às pressas, e também os pequenos milagres que nos salvam no meio disso tudo. 

     Estarei aqui respirando de vez em quando. Se quiser, respire comigo.


     A cada mil lágrimas, sai um milagre. 

    E talvez este recomeço seja um deles.

Lágrimas regando milagres.
Fer

#millagrimasmilagres #respirarporescrito #voltarpararespirar