quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ando triste



Eu ando meio triste
ando de cabeça baixa
de sorriso amarelo
e com meu passo lento
o meu caminhar é só lamento!

Eu ando meio triste
Com todas as razões do mundo
Já que o meu mundo era só te amar.
E eu sozinho estou a caminhar!

Essa minha tristeza eu sei
Um dia passa, assim como eu passei
e nada ficará,
assim tão triste como está!

Nem o céu cinzento
Nem tão frio o vento
Nem tão quieto o meu coração
Nem eu assim sem ter razão!

Poema à boca fechada



Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

Metade



Composição : Adriana Calcanhoto
 
Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim...
Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será
Que você está agora?...(2x)
Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim...
Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será
Que você está agora?...(2x)

Canção


Nunca eu tivera querido
dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.

Levou somente a palavra,
deixou ficar o sentido.

O sentido está guardado
no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.

Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem...
Só se aquele mesmo vento
Fechou teus olhos, também...

Cecília Meireles

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O VÍRUS DO CIÚME




Ele ligara no final da tarde: “Hoje não posso te ver”. Ela achou estranho, mas aceitou. Fazia meses que não ficavam um dia sem se ver, mas tudo bem, ele estava precisando de um descanso, tinha outras prioridades justas no momento.
Ela aproveitou pra se cuidar um pouco. Um banho demorado, um pouco de TV, navegar na internet... E acabou adormecendo, um sono merecido, levando em conta a vida tumultuada que andava tendo. Que sono bom! Que descanso proveitoso! Fazia tempo que não descansava assim.
Mas o destino, mais uma vez lhe pregava uma peça: o telefone tocou. Já era tarde, ele havia voltado do seu compromisso. Contaminado a dias com o vírus do ciúme, atacou-a sem dó nem piedade: “Você mentiu pra mim!”
Justo ela, que sempre prezou pela verdade, que nunca enganou ninguém. Mentir pra ele? Para aquele que ela escolheu para ser o seu esposo! Jamais! Ela jamais faria isso! Como ele poderia pensar algo tão horrível a seu respeito? Mas ele tinha provas! Mostrou datas, informações, tudo documentado! Da sua alta cadeira de juiz, declarou-a culpada!
Horrorizada com a acusação, chorou. Chorou muito. E aos prantos explicou-lhe que era apenas um vírus, não havia motivo para culpá-la. Mas ele insistiu: “Você mentiu pra mim!”
Era duro pra ela ouvir isso. A flecha da injustiça dói muito. Todo justo sabe o quanto! Com o peito ensanguentado, ficou sem forças para continuar aquela conversa.
Desligou o telefone e foi perguntar a Deus o que estava acontecendo. Por que ela deveria passar por uma provação tão grande? Por que ouvia coisas tão duras da pessoa que mais amava?
Aos poucos, durante a sua conversa com Deus foi se acalmando e por fim adormeceu. Mesmo sem respostas às suas dúvidas sobre a vida, adormeceu...
O que seria daqui pra frente? Ela não sabia. Ela não conhecia vacina alguma contra esse vírus mortal. O que seria daqui pra frente? Só Deus sabia...

Fernanda de Abreu Paganotti

NEM SONO, NEM SONHO...




Eram dias difíceis. O tempo a engolia. O trabalho agitado, o excesso de compromissos, os problemas familiares, a falta de dinheiro, os imprevistos e as dores nas costas a consumia verozmente. Às vezes achava que não ia conseguir vencer o dia, a sensação de que suas energias se esgotariam antes de se por o sol era desesperadora.
Mas havia algo que a mantinha em pé. Algo que renovava suas forças e a fazia continuar. A certeza de que ao chegar em casa, ele estaria lá. Então, ela deitaria no seu colo, fecharia os olhos e o mundo pararia para ela descansar. Era o seu momento mágico. O calor do corpo dele a esquentava, o carinho no seu rosto a acalmava e ali, naquele momento, ela encontrava paz. Era capaz de enfrentar qualquer obstáculo para ter direito a esse momento, o seu momento.
Ontem, não foi diferente: serão no trabalho, dia que parecia não ter fim. Ela como sempre deitou no colo dele e mesmo com a família ali ao seu redor, ela adormeceu, no momento mais sublime da sua paz. Ignorou as pessoas ao seu redor e se entregou ao momento mais esperado do seu dia, o motivo das suas forças. Era um sono sem sonhos, não precisava. O próprio momento já era um sonho. Sonhara com isso a vida toda.
Mas como em todo o sonho, ela acordou. Foi despertada pela ira do seu amado. Com palavras duras, ele queixava-se do seu sono, do seu cansaço, do seu desprezo, da sua falta de amor. A paz foi saindo de cena devargazinho enquanto a mente confusa de quem acaba de acordar vai entendendo o significado das reclamações.
“Nunca gostei que você dormisse no meu colo, sempre me senti incomodado”, ele disse num ataque de fúria. “Nunca gostei!” Essa frase fez eco em sua cabeça perturbada com as verdades que ouvia. O seu momento de paz não agradava o seu amado.
Daí, uma discussão se iniciou que levou a noite embora. Aquela que sonhava com o sono da paz teve roubada a sua noite e a sua paz. O que estava acontecendo? Como isso aconteceu? Por que tanta ira? Eram muitas dúvidas e nada parecia fazer sentido.
Ela só sabia uma coisa: estava de luto. Perdera um “ente” querido que lhe faria muita falta, ficara sem chão. E agora como seria? Como suportar o dia sem recarregar a energia da paz? Como seria daqui pra frente?
A discussão acabou e cada um foi para o seu lado com um vazio no peito. Quantas coisas são ditar em momentos de tribulação! Ao deitar-se em sua cama, já sem forças viu seu sono perder-se no quarto e passou uma noite de sonho sem sono. Repetidas vezes em sua mente via sempre a mesma cena: antes daquele pesadelo chegar, quando ainda vivia o seu momento de paz, relembrava ela que ao encostar-se no peito dele, ele dizia para que ela se deitasse, esticasse as pernas, descansasse, ficasse à vontade e se sentisse em casa. Por que havia dito isso se nunca gostara daquela situação? Por que incentivava uma postura que o desagradava? Mas apesar da insistência da cena que se repetia no restante da noite, não encontrou resposta.
Só tinha certeza de uma coisa. Como em todo o luto, sabia que havia perdido algo precioso e que jamais o teria de volta. Jamais conseguiria deitar em seu colo, dormir e sentir a mesma paz. Essa certeza doía demais. E agora, aonde encontraria paz? No vazio da sua cama fria faltava calor, faltava afago.
Se ele nunca havia gostado daqueles momentos, será que realmente houve paz? Será que todos aqueles momentos foram irreais? Apenas sonho? Que outras situações não agradavam a ele e ela nem imaginava? Ela não queria imaginar, doía demais.
Do seu sonho nada sobrou. Nem sono, nem noite, nem sonho... Só dúvidas...

Fernanda de Abreu Paganotti

A margarida friorenta



Era uma vez uma Margarida num jardim.
Quando ficou de noite, a Margarida começou a tremer.
Aí, passou a Borboleta Azul. A Borboleta parou de voar.
    - Por que você está tremendo?
    - Frio!
    - Oh! É horrível ficar com frio! E logo numa noite tão escura!
A Margarida deu uma espiada na noite. E se encolheu nas suas folhas.         
   A Borboleta teve uma idéia:
  - Espere um pouco!
   E voou para o quarto da Ana Maria.
   _ Psiu! Acorde!
   - An! É você, Borboleta? Como vai?
   - Eu vou bem. Mas a Margarida vai mal.
   - O que é que ela tem?
   - Frio, coitada!
   - Então já sei o remédio. É trazer a Margarida pro meu quarto!
   - Vou trazer já!
   A Borboleta pediu ao cachorro Moleque:
   - Você leva esse vaso pro quarto da Ana Maria?
   Moleque era muito inteligente. E levou o vaso muito bem.
   Ana Maria abriu a porta para eles. E deu um biscoito ao Moleque.
   A Margarida ficou na mesa de cabeceira.
   Ana Maria se deitou. Mas ouviu um barulhinho. Era o vaso balançando. A Margarida estava tremendo.
  - Que é isso?
   - Frio!
   -Ainda? Então já sei! Vou arranjar um casaquinho pra você.
   Ana Maria tirou o casaquinho da boneca. Porque a boneca não estava com frio nenhum. E vestiu o casaquinho na Margarida.
   - Agora você está bem. Durma e sonhe com os anjos.
   Mas quem sonhou com os anjos foi Ana Maria. A Margarida continuou a tremer.
   Ana Maria acordou com o barulhinho.
   - Outra vez? Então já sei. Vou arranjar uma casa pra você!
   E Ana Maria arranjou uma casa para a Margarida.
    Mas quando ia adormecendo ouviu outro barulhinho.
   Era a Margarida tremendo.
    Então Ana Maria descobriu tudo.
   Foi lá e deu um beijo na Margarida.
   A Margarida parou de tremer.
   E dormiram muito bem a noite toda.
   No dia seguinte Ana Maria disse para a Borboleta Azul:
   _ Sabe, Borboleta? O frio da Margarida não era frio de casaco não!
   E a Borboleta respondeu:
   _ Ah! Entendi!

Fernanda Lopes de Almeida

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Verdades


Jota Quest - Amor Maior

Eu quero ficar só, mas comigo só eu não consigo
Eu quero ficar junto, mas sozinho só não é possível
É preciso amar direito, um amor de qualquer jeito

Ser amor a qualquer hora, ser amor de corpo inteiro
Amor de dentro pra fora, amor que eu desconheço
Quero um amor maior, amor maior que eu
Quero um amor maior, um amor maior que eu

Eu quero ficar só, mas comigo só eu não consigo
Eu quero ficar junto, mas sozinho só não é possível
É preciso amar direito, um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora, ser amor de corpo inteiro

Amor de dentro pra fora, amor que eu desconheço
Quero um amor maior, amor maior que eu
Quero um amor maior, um amor maior que eu

Então seguirei meu coração até o fim pra saber se é amor
Magoarei mesmo assim mesmo sem querer pra saber se é amor
Eu estarei mais feliz mesmo morrendo de dor
Pra saber se é amor, se é amor

Quero um amor maior, amor maior que eu
Quero um amor maior, um amor maior que eu



Saber Amar


A crueldade de que se é capaz
Deixar pra trás os corações partidos
Contra as armas do ciúme tão mortais
A submissão às vezes é um abrigo

Saber amar,
É saber deixar alguém te amar

Há quem não veja a onda onde ela está
E nada contra o rio
Todas as formas de se controlar alguém
Só trazem um amor vazio

Saber amar,
É saber deixar alguém te amar

O amor te escapa entre os dedos
E o tempo escorre pelas mãos
O sol já vai se pôr no mar

Saber amar,
É saber deixar alguém te amar